sábado, 29 de maio de 2010

BENT É NECESSÁRIO

Vou muito ao teatro, por lazer e dever. Atualmente mais por lazer, já que o dever está meio no subjetivo, aquele caso que a gente vai porque é do meio, mas não com tanta obrigação quanto, por exemplo, quando é jurado de prêmio.
Nessas andanças culturais dei com os costados no Teatro Kléber Junqueira, espaço diferenciado que é um caso à parte em BH, geograficamente até meio fora do circuito. Talvez futuramente seja tema de comentário em um outro post aqui no blog. Só prá adiantar, gosto muito da proposta toda da casa.
Fui lá porque queria ver "Bent". Tinha muuuuuuuuiiiiiiiiiiiiiitos anos que queria ver uma montagem dessa peça, que em alguns rasgos de entusiasmo cheguei a pensar em produzir. Mas, como na piada, sou assim. Se tenho vontade de trampar pesado, fico quietinho que aí a vontade passa.
Este texto, sucesso nos EUA e em filme, foi um dos maiores, senão o maior trunfo do diretor paulista Roberto Vignati, com quem tive a oportunidade de trabalhar em duas ocasiões. Com seu sotaque característico, Vignati falava toda hora de "Bent", sempre com orgulho e bem feliz dos resultados financeiros. Outros tempos caro Vignati...
Bom, muita enrolação prá chegar na história. Um homossexual, preso num campo de concentração nazista, desenvolve uma paixão/amor por um judeu. Este também homo, mas dentro do armário. Pois é, em campo de concentração valia mais a pena ser judeu que gay. Prá quem não conhece este lado da história, os gays, que nem eram "gays" naquela época, foram tão perseguidos pelo regime de Hitler quanto os judeus. Talvez até mais, por serem considerados os últimos na cadeia evolutiva dentro de tão brilhante ideologia. Em vez de estrela amarela no uniforme, triângulo rosa. Bonitinho né?
Kléber Junqueira (é, o nome do ator é o mesmo do teatro) e sua trupe desenvolvem o espetáculo com emoção pouco vista nos palcos atuais. Com um elenco de apoio afinado, ele e Vinicius di Castro (respectivamente o judeu gay no armário e o assumidíssimo com triangulo rosa na camisa), envolvem a platéia no jogo de sedução, e depois amor, em performances memoráveis, carregadas de verdade.
Na cena mais badalada da peça, eles transam sem se tocarem, uma vez que o contato físico era proibido e vigiado. É um momento muito legal, com boa pegada de erotismo. Não deixa de ser engraçado ver senhoras sentadinhas ouvindo os caras dizerem pau, e o que fazer com ele, até atingirem o orgasmo. É curioso observar, mas aqui, não tem nada de chulo viu, na verdade tudo soa muito poético. Fato é que, o que em outros tempos foi algo criativo e surpreendente, naturalmente hoje ganha novos contornos. Isso porque na época transar era no pega prá capar mesmo né, e hoje muuuiiita gente faz sexo sem se tocar. Alguns inclusive SÓ fazem assim. Os orfãos do 145 e usuários de chats de sacanagem de internet sabem bem o que eu tô dizendo. Agora, de forma alguma isso desqualifica ou enfraquece este momento, que com certeza é um dos pontos altos do espetáculo. Confesso que fiquei até um pouquinho sem graça de lembrar disso durante a peça, me senti meio fútil diante de tanta carga dramática. Mas fazer o que, pensei uai...
Enfim, "Bent" é necessário. Não fosse pela belíssima produção, esmerada não somente no que diz respeito ao elenco, mas também em todo o entorno de cenários, figurinos, iluminação e trilha sonora, valeria pela bandeira que levanta. Ééééé gente, precisa levantar bandeira sim. Em um tempo onde cada vez mais se procura tapar o sol com a peneira, precisa ser dito que iguais são tratados como diferentes.
Não adianta a Revista Veja estampar em matéria de capa que não existe preconceito e que jovens convivem bem socialmente com a homossexualidade. Não adianta a Rede Globo fazer materinha com pais e mães que "aceitam" a "condição" de seus filhos. Tá certo, pelo menos hoje uns põe a cara prá bater, e em circulação de mídia nacional. Mas isso, de forma alguma, reflete a realidade. Tentativas descaradas de esvaziar a militância, justamente diante de possibilidades concretas de conquistas, precisam do contraponto de obras como "Bent".
É datada? Ram-ram, lê jornal. Existe país implantando até pena de morte para quem tem como crime somente o fato de amar, ou no português rasgado, TER TESÃO por alguém do mesmo sexo. E aqui, no mesmo Brasil das materinhas cor de rosa, jornalzinho fuleiro e anonimo de universitários manda jogar bosta em gays no campus. Aí vem a Veja com pesquisa feita sei lá com quem dizer que os mais novinhos nâo vêm em sua sexualidade motivos de luta, mas sim algo natural. Uai, isso aí todo mundo sabe, só falta combinar com os homofóbicos. É bem hilário ver pessoas candidatas ao troféu cabeça boa por terem amigos gays dizerem que tudo bem, mas seja discreto. Tomá no sul né não? Discreto por que, se não tem nada demais?
Aff, quebra de promessa de posts curtos. Terminando este quase seminário, fica a dica-recomendação-indicação-intimação. Se você ainda não viu "Bent", não perca mais tempo. Só rola hoje e amanhã às 8 horas da noite. O Teatro Kléber Junqueira fica na Rua Platina, 1827, no Calafate. Para de preguiça, fui de ônibus, você também pode ir uai. Pro povo que não é de BH e só tá a passeio, melhor pegar um taxi, fica baratinho. 
   

sexta-feira, 21 de maio de 2010

VAI ENTENDER...

É ruim falar de coisa ruim. Nunca gostei, já disse outras vezes aqui que não rendo assunto quando alguém vem me contar tragédia, ou ficar comentando a montoeira de desgraça que sai no jornal todo dia. Maaas, infelizmente, não tem como sair fora disso sempre e nem como não manifestar aspectos tão intrigantes de algumas situações.
É fato que lidar com criança hoje em dia não é nada fácil. O que a gente mais vê é menino de dois anos mandar pai e mãe tomar no sul. Tem muitos que só esperam tempo suficiente de conseguir se equilibrar nas duas pernas prá voar de socos e pontapés nos avós. Enfim, prá ser franco, quando existe a possibilidade de evitar o contato, é o melhor a fazer, prá não sobrar prá você também.
Ham, mas dito isso, que muitos com certeza se arrepiarão ao ler, também é necessário dizer que adultos não podem pagar na mesma moeda. Se outras razões não existissem, duas resumem a ópera.
1 - O adulto tem muito mais força, não tem como comparar uma criança avançando nele com ele dando uns buléu na ferinha.
2 - O adulto tem mais discernimento (ou pelo menos deveria ter) para pensar e medir as suas ações.
Bom, este aí é o adulto obrigado a conviver, seja por parentesco ou trabalho. Tá certo que muitos as vezes perdem a cabeça e revidam agressões. Entendeu o tá certo né? Só expressão prá compor a frase, porque certo nunca está. Bater em criança ou em velho JAMAIS estará certo.
Agora me conta, se a pessoa não tem que passar pela tarefa de domar essa turminha da pesada, por que ela vai caçar sarna prá coçar? É de se supor que seja na intenção de ser alguém legal, doar-se um pouco, melhorar a vida de pelo menos um serzinho nascido sem oportunidades. Nossa, louvável demais tal altruísmo!
Então, é nessa hora que vem o aspecto intrigante. Por que uma dona maluca, rica, vida ganha, aposentada, pega uma criança, leva prá casa, e daí passa a torturá-la? Isso é in-com-pre-en-sí-vel, mesmo levando em conta tudo que a gente sabe sobre a meninada de hoje. Por que uma pessoa instruída, bem sucedida, cheia de plástica na cara, faz uma escolha como esta? Por que não arruma um bofão e vai trocar sopapo na cama? Mais digno né?
É, fetiche é legal, mas covardia... Putz, detesto.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

SAÍDINHA DE BANCO

Não sei como chama aí, mas em BH deram esse nome. Saídinha de banco é uma modalidade de assalto, nem dá mais prá dizer que é nova, porque já rola tem um tempinho.
A organização desse crime organizado é simples. Uns caras atacam a vítima na hora que ela sai do banco, ali na porta mesmo ou vão seguindo a espera da melhor oportunidade. Geralmente atuam de moto e não tiram o capacete. Claro, além de acessório de segurança, capacete de moto é um ótimo disfarce.
Bom, isso tem todo dia, o dia inteiro. A polícia organizada faz várias reuniões e fala de umas providências, mas a outra organização tá batendo de goleada.
Essa
semana teve uma tragédia, uma mulher foi morta num golpe desses, quando acompanhava o pai na hora de sacar a aposentadoria. Pai de 96 anos, prá você ver que bandido não discrimina ninguém no atendimento do seu serviço.
o povo fala assim: Fica olheiro dentro do banco, vendo quem vai tirar grana, e dá o sinal pros comparsas lá fora.
A idéia da polícia organizada: Proibir o uso de celular dentro do banco.
, nem sou polícia e nem sou tão organizado, mas pensa comigo. As vítimas são aquelas pessoas que sacam grandes quantias de dinheiro, e não quem foi pagar conta de água. Então vamos atacar de perfil:
- Quem faz retirada grande para pagamentos, por exemplo, de funcionários, faz sempre no mesmo dia, e até na mesma hora.
- Quem pega o dinheiro todo da aposentadoria prá por debaixo do colchão, faz isso com dia marcado. E vamo combiná, sendo idoso com hora milimetricamente marcada, porque eles gostam assim (em breve também vamos gostar).
- Quem quer sacar volume maior precisa AGENDAR no banco o dia de buscar. É engraçadíssimo, porque em banco funciona assim, o dinheiro é seu, mas você só pega na hora que eles querem. E tem mais, dependendo da agência, além do dia querem que você marque também a hora.
É fato que ninguém conhece ninguém, tema que vou adorar tratar numa outra hora. Então, se a gente não conhece nem o irmão da gente, vai lá saber como se comportam funcionários de banco?
Agora me conta, com tanta rotina já marcadinha precisa de olheiro vigiando cliente em fila?

quarta-feira, 5 de maio de 2010

AO PÉ DA LETRA

Ram-ram, sou mesmo, sou um cara chato e implicante. Tem gente que fala isso, e de certa forma, acabo tendo que concordar.
Agora vê bem, se é mera implicância. Você já viu esse povo que anda beeeemmmm devagarzinho na rua, e acha de andar no meio do passeio? Passeio é calçada, a gente chama assim em BH.
Bom, se esse não te irrita, que tal aquele que não anda no meio, mas em ZIG-ZAG? Já viu? A pessoa tentando passar e o da frente só na coreografia.
Eu ando depressa. Meio por hábito, meio porque estou sempre atrasado. Mas não acho nada demais os outros andarem devagar. Uai, direito de cada um andar como quer né não? Eu só não entendo porque o sujeito não vai ali, pelo cantinho, calminho, pensando na vida.
ontem aconteceu que fui num shopping de tarde, prá ver se comprava ingresso antecipado de cinema. Queria ver "Alice" em 3D à noite, coisa que desisti diante do tamanho da fila. Mas o assunto não é esse.
Shopping sempre tem o que?
Praça de Alimentação!?
É, tem, mas eu ia falar escada rolante.
Então, mais uma implicância. Tá certo que a escada é rolante, vai poupar o esforço de subir degrau por degrau. Mas me conta, precisa parar no degrau que "embarcou" e ficar nele até a desova no andar seguinte? Não dá prá ir dando uns passinhos prá adiantar o expediente de todo mundo?
Sei lá, eu acho que dá.

domingo, 2 de maio de 2010

A PARTE PELO TODO

Em BH tem um evento que chama Comida di Buteco. É simples, em um determinado período do ano vários bares concorrem ao título de melhor tira-gosto. Todo ano criam uma regra especial, que caracteriza a edição. Este ano foi que todos os pratos tem que levar jiló.
Marcelo é cirurgião, e gosta de jiló.
Neuza é diarista, e gosta de jiló.
Francisco é arquiteto, e gosta de jiló.
Maria é advogada, e gosta de jiló.
Wanderley é gari, e gosta de jiló.
Adalberto tem 50 anos, é motorista e negro. Matilde aos 15 anos, é uma estudante loirinha. Jefferson, com 25, é motoqueiro de olhinho puxado, meio japa. Os três também gostam de jiló.
Bom, aí na USP tem uns estudantes que de tão corajosos que são, publicam um jornalzinho virtual, anônimo. Uns dias prá trás, soltaram nota convocando os homens que não gostam de homens e as mulheres que não gostam de mulheres a jogar merda em homens que gostam de homens e mulheres que gostam de mulheres. Por incrível que pareça, tá dando um bololô, que provavelmente não vai chegar a lugar nenhum. Lembrei disso agora porque ontem foi assunto no programa do Serginho Groissman. 
Agora pensa bem. Já imaginou se o povo que não gosta de jiló resolver jogar bosta em quem gosta de jiló? Que confusão vai dar nesse Comida di Buteco heim? Ou até na USP mesmo, onde com certeza também vai ter gente que gosta de jiló