quarta-feira, 28 de setembro de 2011

BARES, CACHORROS E O BLOCO DO EU SOZINHO

Essa semana começou com mais uma polêmica, e a coisa tá rendendo.
Domingo, no tradicional Bar do Bolão, aqui em BH, um casal resolveu almoçar em uma das mesas da calçada, acompanhado da filha e de um cachorrinho. Daí o bar como um todo, porque foi do garçon ao dono, passando pelo gerente, se recusou a servir, por proibição de animal na casa.
Pronto, tava armada a confusão. Segundo o dono do cachorro (não sei se ainda pode falar dono na moderna nomenclatura de adoção...), ele estava no passeio, lugar público (que a Prefeitura considera particular na hora de mandar o morador fazer um novo) e que, portanto, tinha o direito de permanecer ali com o bichinho. Bolão e cia resolveram que não, pois existe uma lei municipal que determina a proibição de animais em estabelecimentos comerciais e, pelo jeito, ele considera a rua um estabelecimento comercial seu.
O resultado é que mulher e filha foram caçar onde comer, enquanto o rapaz permaneceu no bar, junto com o cachorrinho, esperando a polícia chegar. Sim, deu polícia, imprensa e pelo jeito vai render também processos na justiça.
Por mim, ninguém ali tem razão. Sei que muitos podem não concordar comigo, mas acho uma mera situação de umbigo. Hoje em dia é assim, todo mundo tem direito de tudo. Sou super mega a favor da liberdade e acho, com toda sinceridade, que cada um pode fazer o que quiser da própria vida. Porém, acho também que seria muito legal se as pessoas se lembrassem de que não estão sozinhas no mundo. Paralela a toda a liberdade que desejam, deveriam se lembrar do respeito ao próximo. Não precisa de lei nem nada, basta bom senso e adquirir o saudável hábito de se colocar no lugar do outro.
Primeiro, o homem do cachorro se vê no direito de sentar numa mesa de restaurante e almoçar junto com o animal. Será que em algum momento ele se colocou no lugar das outras pessoas? Será que todo mundo acha legal almoçar na companhia de animais?
Outra coisa, vamos pensar, hipoteticamente, que tivessem umas 30 pessoas nas mesas, o que é um número até pequeno para horário de almoço no Bolão. Se cada uma dela se visse no mesmo direito que o nosso heroi, seriam 30 cachorros ali, entre as mesas na calçada. O argumento que o bicho era pequeno, quietinho e que não incomodava ninguém vai por terra nessa hora. Ím-pos-sí-vel 30 cachorros não incomodarem, não somente as pessoas, como também entre si. Para um pouco e imagina a cena. Pois é. Mas o bloco do eu sozinho consegue olhar por este angulo?
Daí vem o lado de Mister Bolão. Seu argumento mais forte foi o que? A lei! Pois é, mas a lei que favorecia a ele né, porque para a lei sobre mesas e cadeiras na calçada ele faz vista grossa. Não sei ao certo, mas, pelo que andou saindo na imprensa, ele não está lá muito legal nesse aspecto.
De novo, leis à parte, a cidade é lotada de bares que simplesmente ocupam a calçada, jogando o pedestre pro meio da rua. Isso sem falar na questão da poluição sonora, que não leva em conta o sossego de quem mora por perto. O bloco do eu sozinho só está preocupado com seu próprio negócio. Teve um dono de bar, numa entrevista, que chegou ao ponto de dizer que quem se incomodava com cadeiras na calçada e barulho deveria ir morar num sitio. Foda né?
Enfim, polícia para quem precisa de polícia. Agora, com certeza, seriam bem menos necessárias leis e polícia se cada um começasse a olhar pro outro. Principalmente aprendesse a se colocar no lugar dele.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A CANTORA TITANE E A PRESIDENTE DILMA

Fui ontem ao Parque Municipal para a última edição de 2011 do projeto musical patrocinado pelo Sesc, que rola aos domingos pela manhã. Idealizado e tocado pelo produtor Pedrinho Alves Madeira, é com certeza um dos programas mais legais de Belo Horizonte.
Pra mim o destaque do dia, sem dúvida nenhuma, era a Titane, de quem sou fã incondicional. Ela dividiu o palco com o Boca Livre, que também é legal, mas acho que perto dela fica até uma covardia. Difícil segurar a onda depois que ela sai de cena deixando o povo aceso com tanta energia.
entra o motivo do post, além, é claro, de elogiar o sempre elogiável projeto, e desejar vida longa a ele.
Bom, a Titane deveria ser uma das cantoras mais famosas do Brasil, se não A mais famosa. Indo além, ela deveria ter também uma enorme repercussão internacional.
Aos fatos: Ela tem uma voz incomum, que sabe usar e abusar como ninguém. Ela tem um trabalho mega sério, e de muita, mas muuuuiiiita qualidade. Mesmo assim, o que ela faz não tem nada de hermético, pelo contrário, é até bem comercial, acessível para qualquer público e não voltado para "iniciados". Ela é carismática pra além da conta. Ela é linda em cena. Ela dança com uma expontaneidade genuína e contamina todos ao redor. Ah, ela também toca tambor.
Eu sei, pelo que conheço dela, que a fama, nesse conceito oco de hoje em dia, não faz parte do menor de seus desejos. Porém, não existe um único artista na face da terra que não deseje a fama, no sentido de atingir o maior número de pessoas. Lógico, quem fala quer ser ser ouvido. Então, além de todos os fatores citados acima, ainda existe o "ser sincero e desejar profundo". Ninguém se mantém em uma carreira por 30 anos se não tiver esse desejo sincero.
, alguém pode levantar a mão e dizer: Ow! Desejar e esperar cair do céu não adianta. Supondo que esse alguém tenha razão, conheço de perto a história da nossa personagem e sei que, mesmo com toda a qualidade que tem, que por si só deveria lhe garantir o trono, ela também sempre correu atrás.
Vamos para a segunda parte do post, não sem antes deixar registrado que a Titane tem uma carreira maravilhosa e legião de fãs. Só não é a mais famosa do Brasil, como deveria ser.
Imagina agora uma pessoa a vida inteira envolvida na administração pública, passando por vários governos e escalões. Essa pessoa, embora vivendo anos a fio com política e políticos, nunca se candidatou a nada. Essa pessoa desejou, ou, pelo menos em algum momento, passou pela cabeça dela ser presidente de um país? 
Pois é, em menos de dois anos a coisa toda foi feita, e temos a primeira mulher Presidente do Brasil. Tá, todo mundo sabe que não foi exatamente ela que se elegeu, mas no frigir dos ovos o cargo é dela. Não vou entrar em nenhum mérito de governo ou eleição, esse não é o assunto de agora. O papo da Dilma aqui é outro.
Originariamente este post ia se chamar A Presidente Dilma e O Segredo. Não exatamente sobre segredos que ela tivesse ou guardasse, mas sim relacionando com o livro-filme "O Segredo". Lei da atração, desejar, canalisar energia e todo esse blablabla de universo conspirando. Aí, vendo a Titane ontem, achei que ia ficar mais legal, e completo, relacionar as duas situações.
Pra fechar, digo que não sou totalmente contra essas teorias de auto ajuda que pregam o desejar profundo e atrair aquilo que se quer. Mas, por outro lado, ficam aqui dois exemplos que vão bem contra essa maré.

Fiz fotos do show com celular de novo, e, de novo, não consegui tirar de dentro dele. Hei de aprender!  :)

sábado, 24 de setembro de 2011

A VIDA CONTADA E A VIDA VIVIDA

Se você já é leitor do blog há mais tempo, e é dessas pessoas de memória boa, vai achar o título repetido. Tá certo, é mesmo, mas não só o título. Como o Beagá Que Eu Vejo já está caminhando no seu quarto ano, é natural que tenha feito novos leitores durante o trajeto. Aí resolvi dar um up em posts antigos. A justificativa é simples: Óbvio que quem começa a ler o blog não vai recorrer aos arquivos e muito menos ir rolando as páginas de quase quatro anos. Só que tem alguns posts que eu gosto mais e, ainda por cima, são atemporais, então queria que os novatos lessem. Pra facilitar, de vez em quando vou subir algum. Esse aqui é o primeiro. Acho até que o início dele meio que justifica a iniciativa.



Eu, como a maioria das pessoas (acho), invento algumas coisas. Já até falei sobre isso em outro post, "Teatro e Semana de Cinzas", é só rolar aí pros mais antigos e você encontra.
Hoje vou falar de outra coisa que inventei. Tinha idéia deste tópico há muito tempo, mas fico sempre adiando por causa daquele lance que também já falei, quero postar na hora que o blog tiver mais leitores em número e, principalmente, em fidelidade. A urgencia agora se deu porque minha amiga que estuda letras me falou que tem usado não só o termo, mas também o conceito em sala de aula. Tudo bem, ela cita a fonte, que sou eu, mas como não posso registrar uma coisa dessas na Biblioteca Nacional e muito menos patentear, pelo menos vou registrar aqui. No mínimo você vai saber que a teoria é minha, e quem sabe um dia vai defender isso numa mesa de bar.
A vida contada e a vida vivida. Essa expressão surgiu de uma conversa que estava rolando com meu amigo, na sala da casa dele, em Londres. Ele tinha se mudado prá lá tinha um ano (agora fazem 12) e eu estava visitando. Antes disso a nossa proximidade era muita, até moramos juntos aqui em BH. Bom, nesse período, ambos em BH, eu fiz algumas viagens, inclusive outras internacionais. Então o papo era esse. Ele ficava me falando que parecia que as outras viagens tinham sido mais legais, e aquela ali, da visita a ele, estava sendo a pior.
Estava? Não, era a mesma coisa. Claro, viagem sempre é melhor depois que acontece. Enquanto vai acontecendo é um cotidiano agradável. Mas boa mesmo ela fica na hora que a gente lembra... Lembra e con-ta.
Essa era a diferença. As outras viagens que eu tinha feito, quando chegava, contava prá ele. Esse contar animado nos primeiros dias prosseguia por dias e anos. Claro, contar viagem dura muito, tanto que tô falando aqui de uma que tem 11 anos.
Então, daí que surgiu o conceito, vida contada e vida vivida. Dessa vez em Londres ele estava vivendo a viagem comigo, e não me ouvindo contar. Isso faz toda a diferença. Fácil extrapolar prá todo o resto. Tem uma frase que adoro:
"Como são fascinantes as pessoas que nós não conhecemos".
E é isso mesmo, não vivemos com as pessoas que não conhecemos, sabemos só de contar. Você acha que a Madonna seria tão fascinante se você convivesse na cozinha dela? Claro que não. E os filmes, livros, essas coisas que nos encantam, são o que? Vidas contadas.
Enfim, é isso. Ninguém precisa achar a própria vida chatinha, entediante. Garanto que se algum dia alguém resolver contá-la em uma peça de teatro, ela será bem legal. Eu pelo menos tenho certeza que vou querer assistir.

Publicação original: 26 de abril de 2009

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

A NOSSA INDIGNAÇÃO É UMA MOSCA SEM ASAS...

Eu fui na manifestação contra a corrupção aqui em BH. Pois é, outras do tipo aconteceram Brasil afora, aproveitando a emblemática data do 7 de setembro.
Controvérsias a parte, adorei ter ido e, com certeza, estarei em outras que ficar sabendo. A mídia se divide entre os que tentam se apoderar do movimento, como se fossem donos ou ideologos dele, e os que tentam desqualificá-lo, como algo oportunista de grupos blablabla, blablabla. Enfim, a gente sabe que atualmente a mídia, ou a imprensa no Brasil, se divide entre chapa branca e chapa branca. Cada lado defendendo seus interesses. De todo isso não é ruim, porque tem sido essa a maneira que o cidadão está encontrando pra ficar sabendo das coisas, tando de um lado quanto do outro.
Bom, quando cheguei na Praça da Liberdade, local da concentração, o pessoal estava começando a dar a primeira volta. Eram mais ou menos 11h45 e tinham só umas 50 pessoas, e olhe lá. Quando finalmente, depois de muito rodar canteiros, o grupo resolveu sair rumo à Praça da Assembléia, por volta das 13h, já eram em torno de uns mil. É, eu acho que tinha por aí, embora um jornal tenha falado em 300. Depende da hora que o reporter viu né?
Caras pintadas, nariz de palhaço, máscaras do personagem do filme "V de Vingança" e muita roupa preta foram os figurinos preferidos, em uma turma preponderantemente jovem. Colírios para os olhos à parte, tantos gatchynhos e gatchynhas dão um alento ao se pensar no que vem adiante.
Bem legal também foi a confirmação de que se trata de um movimento apartidário. Em certo aspecto, a coisa foi até bem radical. O único momento tenso aconteceu justamente por isso. Quando todo mundo já tava instalado na Praça da Assembléia, chegaram uns bunito, com bandeiras e camisas de partido, com uma clara intenção, no olhar e atitudes, de tomar conta do terreiro. Foram recebidos a vaia e obrigados e recolher seus badulaques. Mesmo nas falas, quando alguém começava a resvalar pro discurso claramente partidário, era interrompido pelo toque dos bumbos ou palavras de ordem da maioria, que assim conseguia colocar tudo de volta ao objetivo proposto.
Óbvio que sobrou pra todo mundo, do governo federal ao municipal, sem esquecer do estadual. Imagino que pelo país afora tenha sido assim também, afinal, não tem nenhuma instância do poder que esteja imaculada a ponto de ser poupada. De tudo, além do grande prazer de estar na rua com aquela turma animada, acho que algumas lições foram importantes e, aparentemente, a ficha está caindo em várias questões:
1 - Todo mundo que está nos governos hoje está ali por voto. Não existe mais político biônico, coisa que a meninada não conheceu, mas que a gente sabe bem o que era. Logo, o importante é saber votar, ou pelo menos tentar acertar. Talvez, com essa nova conscientização, slogans como "pior não fica" não colem mais. Eleição não é programa de humor.
2 - As pessoas que momentaneamente estão no poder, estão ali para servir, como administradores do que é público. Eles não são donos de nada, embora muitos deles pensem o contrário. Essa postura cada vez está colando menos, uma vez que o povo está a cada dia menos bobo. 
3 - Ninguém precisa ser "iniciado" para participar. Ao longo dos anos a política foi malandramente colocada com algo difícil, chato e inatingível. Muita gente sentia-se intimidada de opinar por não se considerar preparada o suficiente. Nada, a coisa é bem mais simples, política é o seu dia a dia. Tá ruim? Reclama, grita, você não precisa ser sociologo e nem pós graduado em ciências políticas pra isso.
Tem quem aposte no naufrágio do movimenteo recem iniciado. Tem quem queira, estrategicamente, compará-lo ao fracassado "Cansei", idealizado pelas elites, principalmente paulistanas, que morreu na praia sem nem mesmo ter começado a nadar. Enganam-se eles, ou me engano eu, mas acho bem difícil uma iniciativa abraçada por milhares de jovens animados perder folego com tanta facilidade. Veremos...
No mais, senti falta de multidão. Não há quem não se indgne com a corrupção e o estado das coisas no Brasil. É assunto de botequim, de fila de banco, de ponto de ônibus. Na hora H, mil pessoas na nossa cidade. Pouco né?
Tomando emprestada a frase do Skank, a conclusão parece ser essa mesmo: "A nossa indignação é uma mosca sem asas, não ultrapassa as janelas de nossas casas".
Eu? Indignado...

* Fiz fotos, usando pela primeira vez meu celular novo. Assim que eu conseguir passar pro computador, se não estiverem ruins demais, posto aqui. Bom motivo pra você voltar e ver se já tem.  :)