domingo, 22 de julho de 2012

OS BEM COMPORTADOS

Existe um segmento no universo gay, ou talvez mais de um segmento, uma vez que este grupo é bastante segmentado, que busca a "aceitação" como prêmio pelo bom comportamento. Então tudo prejudica estas pessoas, por danos de imagem. A bicha pintosa, as travestis, os que dançam descamisados na buatch, aquele povo que só pensa em pegação, enfim, todo mundo que, de alguma maneira, possa parecer agressivo frente aos heterossexuais, suas famílias, religiões e normas. 
Naturalmente, estes segmentos também são contra, e descem o malho, nas Paradas Gays LGBT que rolam pelo mundo afora. Entre outras coisas, tacham de despolitizadas (ham-ham, quem não consegue diferenciar respeito de aceitação é bem politizado), de micaretas, de meras oportunidades pra beijar na boca, de show de drag e por aí vai.
Acho que fui a todas as Paradas de BH, ou se perdi no máximo foram uma ou duas. Afirmo, sem medo de errar, que as Paradas, todas, não só as de Belo Horizonte, são politizadas. Não fosse por mais um monte de coisas, só a sua realização já é um ato político.
Na Parada tem trava? Tem sim senhor! Na Parada tem pegação? Tem sim senhor! Na Parada tem trio elétrico? Tem sim senhor. E o gay, o que é? É um cidadão como outro qualquer, cuja única diferença é amar, ou transar, com alguém do mesmo sexo.
Por que então ser tratado como cidadão de segunda categoria? Pior, por que ser tratado como ser humano de quinta categoria? Seria realmente muito bom que não fosse preciso fazer parada nenhuma. Seria muito bom que todos pudessem ser iguais em suas diferenças. Bom seria também se todos entendessem que ninguém precisa de aceitação. O que se pede, ou pelo menos deveria ser pedido exigido, por todos, é respeito. Enquanto alguns não entenderem o que essa mudança de exigência significa, vão continuar com suas críticas vazias, fomentando o preconceito dentro do preconceito.
disse outras vezes, mas acho sempre bom repetir. Não se pode pregar um jeito certo de ser gay, em oposição ao jeito errado de ser. A palavra de ordem "diversidade" precisa contemplar exatamente isso, a diversidade. Cada um tem o direito de ser como é, do jeito que se sentir bem, desde que não prejudique o outro.
Estas correntes costumam dizer: Pra ser gay, não precisa ter voz fina. Precisar não precisa, mas se tiver, ou quiser ter, não é problema seu. Pra ser lésbica não precisa se masculinizar. Precisa? Não, não precisa. Mas se a moça quiser ter pinta de macho, no que isso afeta o outro? Constatar que a diferença existe, até mesmo colocar apelidinhos diferenciando uns dos outros, é uma coisa. Pregar contra, aí não, aí já é fazer o jogo do homofóbico.
Meninos bem comportados, façam seus esqueminhas de aceitação. Abaixem as suas cabeças e façam tudo o que seu mestre mandar. Agora, deixem o pessoal ferver nas Paradas, na noite, tirar suas camisas ao som de música eletrônica, vestir de mulher, dar muita pinta nos palcos. Numa sociedade heteronormativa, o próprio fato de ser gay já é uma transgressão. Talvez um dia, além de aceitos, vocês se descubram também respeitados. Aí não vai ser preciso nem agradecer. Cada um que batalhou por isso já vai se sentir bastante recompensado por poder levar a vida com a dignidade que merece.

* A foto foi pescada no Portal R7, com crédito para o jornal Hoje em Dia.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

ORGULHO E PRECONCEITO

Pois é, blog parado e agora post repetido. 
Alguém aí deve lembrar de uma época que fiz isso, andei subindo uns posts mais velhos pra "aproveitar" leitores novos. É, porque ninguém que entra aqui vai ficar rolando a página e muito menos mudando de uma pra outra. Claro que, como tudo mais nesse blog, foi uma fase e depois parou.
Hoje estou repostando um texto de 2010, pra falar da Parada do Orgulho Gay, ou seja lá que nome tenha, seguido da sigla LGBT. Vou repetir porque acho que ficou bom e, pra falar a verdade, não tem muito a acrescentar, mesmo passados 2 anos.
Então, vamos lá. O objetivo é lembrar que domingo tem a Parada de novo. Vamos?






Eu acho que tem muita confusão em torno dessa idéia de orgulho. Pra mim deveria ser uma referência somente daquilo que a gente tem participação direta. Exemplo prático: Gisele Bündchen não tem porque ser orgulhosa de sua beleza, mas tem tudo a ver o orgulho do que fez com esse atributo natural. Outro: Orgulho de ser brasileiro... Ahn? Nem orgulho e nem vergonha. Por que ter nascido aleatoriamente numa parte do mundo seria motivo pra qualquer uma das duas opções? Orgulho da família... Bom, esse até cola, porque a pessoa pode se sentir orgulhosa da forma como encaminhou esse setor da sua vida, ainda que muito deste caminho tenha sido feito por eventos aleatórios.
Bom, orgulho gay. Outro meio sem pé nem cabeça. Ninguém escolhe ser gay e não faz qualquer esforço pessoal para determinar sua sexualidade. Não há mérito, e da mesma forma não há demérito. Ser gay é mais ou menos como ser brasileiro, muita gente se pudesse ter escolhido não seria nenhum dos dois.
Então, isso tudo pra falar de uma coisa muito legal que acontece mundo afora, e que hoje domingo rola em BH, a Parada do Orgulho Gay. Claro, já deu pra perceber que na minha opinião o nome é meio equivocado, o que não tira a importância do evento. 
Para os idiotinhas que contrapõe com a não existência de Parada do Orgulho Hetero, além de lamentar a sua burrice, a gente só pode lembrar que ninguém é hetero. Heteros são médicos, pedreiros, advogados, lixeiros, gordos, altos, ladrões, de olhos verdes, carecas, mancos, lindos... Qualquer coisa, menos heteros. Com gays também deveria ser assim, mas não é. A parte gay sobrepõe todas as outras e também o todo.  Sentiu a diferença? Daí a necessidade de ações deste tipo.
O mais importante desta marcha colorida pela cidade deveria ser a visibilidade. Parada da Visibilidade Gay. É, Harvey Milk, como a gente aprendeu no filme sobre ele, dizia da importância da visibilidade. Sempre pensei assim também, por um raciocínio super simples. Todo preconceito vem do desconhecimento, e não há uma só pessoa no mundo inteiro que não tenha convivência com gays. O que acontece é que muitas dessas pessoas nem sonham que se relacionam com rapazes e moças alegres bem mais do que pensam. Toda família tem um filho, um primo, um sobrinho, um tio, até mesmo um pai ou uma mãe gay. As vezes na verdade a tropa toda - filho-tio-sobrinho-irmão e o escambau. Como nem todo gay usa maquiagem e nem toda sapata calça social e cinto de curvim, acaba que tudo passa despercebido e assim as pessoas podem ter preconceito contra aquele povo distante. Numa comparação meio esdrúxula, o que interfere mais na consciência, um conhecido ou mil estranhos numa estatística? De novo, coisa simples, você vai dar mais atenção à dengue quando morrer um filho seu do que enquanto ler que morreram 500 no Brasil.
É isso, Parada da Visibilidade Gay, pra mostrar que "esse povo" está mais presente do que você imagina. Lógico, 3 milhões na Parada de São Paulo não significam nada diante da descoberta que seu melhor amigo, aquele parceirão, é gay. Puxa vida, o cara é tão legal né, e vê só, é gay...
Pena que em grande parte o carnaval na rua acabe se esgotando em si mesmo. É, porque na maioria das vezes, a animação atrás do trio elétrico se transforma em sorriso amarelo no dia seguinte. Sabe né, naquela hora que o evento vira a piada na roda de cafezinho da repartição e o sujeito que bateu cabelo na avenida faz que não é com ele. No dia seguinte, o que era um animado orgulho vira de novo vergonha e conduz de novo o ex-orgulhoso pra dentro do seu nem sempre confortável, mas aparentemente seguro armário. 
A mídia também sempre coopera na cobertura, tratando a manifestação como algo pitoresco e engraçado, focado nas montagens das drags e nos corpões pelados em cima de caminhões. Não, não, nada contra. Tem gente preconceituosa dentro do preconceito que quer taxar o modo de vida dos outros. Patrulham em cima de um jeito certo de ser gay. É, o mesmo pessoal que reclama quando tem alguma pintosa em novela, como se elas não existissem e pior, como se não tivessem o direito de existir e ser como são. A crítica pra mídia aqui vai no sentido de não contemplar a diversidade e focar somente nos personagens que podem com maior facilidade render algum tipo de deboche. Desserviço total.
Falei mal da Parada? Acho que não, apenas botei uns contras em cena, mas são muitos os prós. Só o fato de milhares de pessoas irem pra rua em torno da idéia de querer ser igual nas suas diferenças vale a festa.
É sempre bom lembrar que ninguém precisa aceitar nada, apenas respeitar e cuidar da sua própria vida em vez de ficar se metendo na vida dos outros. Não gostou? Acostume-se, estamos aqui, e viemos para ficar.