terça-feira, 5 de novembro de 2019

BATE CORAÇÃO - UM COMBO DE EMOÇÕES


Quem me segue em algum lugar das redes sociais já sabe, mas é sempre bom repetir: Não tenho a pretensão de ser “crítico” de nada - de teatro, de literatura e muito menos cinema. Não tenho, vamos dizer, a “bagagem” acadêmica necessária para me autodenominar assim. Sou apenas um apreciador, com a vantagem de já ter estado, e muito, do outro lado do balcão. Já produzi muito daquilo que, atualmente, sou um mero consumidor.

Introdução longa pra justificar o necessário retorno a esse blog. Motivo simples:  sai de casa e me senti impelido a escrever sobre o que vivi. A história toda começa na segunda feira com um convite pra ir ao cinema, em uma pré estreia. Quer programa melhor?

Confesso que aceitei com a menor das expectativas. Esperava apenas o encontro com velhos amigos, uma noite divertida para compartilhar afetos. Mas, depois que as luzes se apagaram... Preciso contar que nessa hora começou o turbilhão de emoções que, sinceramente, eu não esperava nem de longe viver nesse programinha absolutamente corriqueiro.

Sem spoiler, vou me ater somente ao que pode ser lido em qualquer sinopse. Bate Coração fala de doação de órgãos, gratidão (e ingratidão), propósito, missão, romance, amizades e família, em suas atuais e variadas configurações.

A sessão começa com risos frouxos da plateia, de certa forma confirmando as minhas baixas expectativas iniciais. Travestis em cena sempre carregam essa força, de provocar o riso, embora muitas vezes manchado com as marcas do preconceito. Porem, um olhar mais atento me alertou – tem coisa aí... A beleza daqueles rostos se movimentando na tela sussurrava a sutileza com que esse riso fácil seria tratado.

Não deu outra. A sequência (de novo gente, sem alerta de spoiler porque vou evitar queimar na largada) vem como uma avalanche. Mas uma avalanche que não atropela, pelo contrário, empurra carinhosamente para o campo do entendimento e encanto da diversidade, da necessária compreensão que o mundo é de todos e que o comando precisa – sempre – estar nas mãos do amor.

As gargalhadas continuam, fortes. Afinal, estamos numa comédia feita por profissionais experientes do riso. Mas este riso agora não é mais aquele frouxo. Está quadro a quadro se enriquecendo de conteúdo e já esqueceu lá trás toda a carga de preconceitos.  Junto dele, presenciamos também soluços na plateia. É gente demais enxugando discretamente os olhos, afinal, rir em público é mais fácil do que chorar.

Bate Coração é por vezes, muitas vezes, panfletário e didático. Confesso que atualmente concordo que muitas vezes é preciso ser assim. Anda bem difícil transmitir mensagens importantes usando as entrelinhas e, certamente, esta é uma evidente função deste filme. Contribuir com a informação e educação na construção de um mundo melhor. Mas, a qualidade da direção e elenco conseguem atender a estes objetivos sem perder a sua principal característica, de ser o condutor do combo de emoções que transportam a plateia do riso ao choro numa sequência que não deixa ninguém descansar na cadeira.

Enfim, Bate Coração é um filme para “toda família”, por mais antipático que me soe esse bordão, exaustivamente repetido na divulgação de filmes brasileiros. Entretanto, sou obrigado a usá-lo pra dizer da importância de se disseminar a sua mensagem do bem pra todo mundo, e deixar claro que qualquer pessoa pode assistir sem riscos de se sentir agredida.

Então, escolha uma sala de cinema perto de você e vá. Se a grana tá curta, sempre dá pra achar alguma sessão ou ingresso promocional mais baratinho. Vale a pena pesquisar. Até porque Bate Coração não é um filme que merece e deve ser visto. Bate Coração é um filme que PRECISA ser visto. Depois você me conta (e me agradece a dica).

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

MÁSCARAS DE CARNAVAL E AS VÁRIAS FACES DA MESMA MOEDA


Foto: reprodução TV Foco
Redes sociais são o paraíso das tretas e são tantos os assuntos sobrepostos que mal nos lembramos do que motivou textões na semana passada.

Com a chegada do Carnaval, fomos apresentados às máscaras "Fábio Assunção", com muita polêmica, a meu ver até positiva. Claro, há bem pouco tempo essa questão não teria as reações de agora. As máscaras seriam campeãs de venda e todo mundo (a maioria) ia achar a ideia bem divertida. Felizmente, estamos evoluindo e há um repúdio generalizado (de novo, a maioria) contra a exploração da imagem do galã de maneira tão pejorativa.

Diante disso, que fique esclarecido (porque nada mais pode ficar nas entrelinhas, nem todos entendem) que sou contra a tal da máscara, como de fato também seria da mesma forma mesmo que há alguns anos.

Aí tem o outro lado, ou os outros lados dessa moeda de muitas faces. Bêbados, ou atualmente chamados dependentes químicos, são personagens do humor desde sempre, e continuam sendo. Artistas que se unem no apoio ao colega se utilizam de personagens nessa condições pra provocar o riso. Pois é, a velha pergunta: Qual o limite do humor?

Outra coisa é a glorificação do álcool. Diferentemente de outras drogas, até mesmo algumas menos prejudiciais do que ele, o álcool é uma droga "lícita". Mais do que legal, é uma droga incentivada. Mais do que incentivada, chega quase a ser obrigatória em alguns círculos ou situações sociais. Experimente ser a pessoa que não bebe. Você se torna de imediato alvo de questionamentos dos mais variados, que vão desde religião a tratamento com antibióticos. O "normal" é a pessoa chegar no "churras", na festa de Natal ou na confraternização da firma e encher a lata. O bêbado da família costuma ser o mais popular da noite, engraçado e animado, aquele que é "de bem com a vida".

Pra fechar, como disse no início, estamos sim, evoluindo. Agora é pensar até onde vai essa evolução, se vamos encarar até o miolo ou permanecer sempre na casca dos likes nas nossas superestimadas redes sociais.

PS: Fui ao Google buscar a imagem pra ilustrar o post e encontrei até "Máscara Fábio Assunção pra imprimir". Parece que o caminho ainda será bem longo.


terça-feira, 29 de janeiro de 2019

"SE PODE ACONTECER, VAI ACONTECER"




Foto: www.bbc.com via Google
Nos anos 90, trabalhei muito com empresas de porte em projetos educativos. A Vale, então Vale do Rio Doce, foi uma das principais clientes.

Nessa época, ouvi uma expressão que nunca esqueci. Não foi lá, mas servia pra todas:

"Se pode acontecer, vai acontecer". 
Essa deveria ser uma norma de segurança.

Agora já aconteceu duas vezes. Podia acontecer? Podia, tanto que aconteceu. Pode acontecer de novo? Pode. O que fazer, esperar pela próxima?

Esse não é o momento pra se defender empresa e muito menos políticos (acreditem, já vi isso aqui pelas redes sociais). De qualquer governo. Governos são co-responsáveis por estas tragédias.


Só uma atitude segura uma onda dessas. Legislação dura, fiscalização pesada, multas grandes e reais. Reais sabe, aquelas que precisam ser pagas e não apenas anunciadas.


Mariana tentou ensinar, mas foi em vão. Agora é a vez de Brumadinho. Será que dessa vez vai?

domingo, 27 de janeiro de 2019

A VALE É O MOTORISTA BÊBADO

Foto: O Globo
Quanto mais populares se tornam as redes sociais, mais especialistas nos tornamos (?) em tudo. Vou ser especialista em Vale.
Nenhum motorista bebe e sai dirigindo com a intenção de matar, nem mesmo de machucar alguém ou um animal. Ele acha, tem certeza, de que está ótimo e que nada vai acontecer. E realmente não acontece nada. Um, dois, dez anos.
Aí um dia a casa cai. Ele bebe, como sempre bebeu, só que se envolve num acidente grave, com vítimas. Fatais. O cara gente boa do boteco mata alguém, destrói sonhos, muitas vezes acaba com a própria vida atormentado pela culpa.
A Vale faz essa mesma gestão de risco. É a bêbada das barragens. Confia que tudo vai ficar bem, que nada vai acontecer. Por mais que seja óbvio que pode acontecer.
Nessa sua estratégia a economia de recursos pesa, o lucro pesa, os bônus pro "alto executivado" pesa.
A vida humana pesa? Não.
Ah, então a Vale é a malvada que sai de casa bêbada pra jogar boliche com pedestre.
Também não. A vida humana não pesa porque nesse raciocínio ela não entra. Afinal, nada vai acontecer. Como efetivamente não acontece. Durante dez, vinte, trinta anos.
Mas, um dia, a casa cai.
O que inibe o motorista bêbado? A inclusão da vida humana na sua equação? Não. Afinal ele sabe que tá de boa, nada vai acontecer. O que pesa é a lei, a punição, a multa.
E pra Vale bêbada, o que poderia pesar? A mesma coisa. Uma legislação rígida, fiscalização, punição. Cadeia, multas (que fossem pagas e não objeto de recursos intermináveis), reparos nos danos feitos.
Mariana não ensinou nada. Quem sabe Brumadinho tenha melhor sorte?