Quem me segue em algum lugar das redes sociais já sabe, mas é sempre bom repetir: Não tenho a pretensão de ser “crítico” de nada - de teatro, de literatura e muito menos cinema. Não tenho, vamos dizer, a “bagagem” acadêmica necessária para me autodenominar assim. Sou apenas um apreciador, com a vantagem de já ter estado, e muito, do outro lado do balcão. Já produzi muito daquilo que, atualmente, sou um mero consumidor.
Introdução longa pra justificar o necessário retorno a esse blog. Motivo simples: sai de casa e me senti impelido a escrever sobre o que vivi. A história toda começa na segunda feira com um convite pra ir ao cinema, em uma pré estreia. Quer programa melhor?
Confesso que aceitei com a menor das expectativas. Esperava apenas o encontro com velhos amigos, uma noite divertida para compartilhar afetos. Mas, depois que as luzes se apagaram... Preciso contar que nessa hora começou o turbilhão de emoções que, sinceramente, eu não esperava nem de longe viver nesse programinha absolutamente corriqueiro.
Sem spoiler, vou me ater somente ao que pode ser lido em qualquer sinopse. Bate Coração fala de doação de órgãos, gratidão (e ingratidão), propósito, missão, romance, amizades e família, em suas atuais e variadas configurações.
A sessão começa com risos frouxos da plateia, de certa forma confirmando as minhas baixas expectativas iniciais. Travestis em cena sempre carregam essa força, de provocar o riso, embora muitas vezes manchado com as marcas do preconceito. Porem, um olhar mais atento me alertou – tem coisa aí... A beleza daqueles rostos se movimentando na tela sussurrava a sutileza com que esse riso fácil seria tratado.
Não deu outra. A sequência (de novo gente, sem alerta de spoiler porque vou evitar queimar na largada) vem como uma avalanche. Mas uma avalanche que não atropela, pelo contrário, empurra carinhosamente para o campo do entendimento e encanto da diversidade, da necessária compreensão que o mundo é de todos e que o comando precisa – sempre – estar nas mãos do amor.
As gargalhadas continuam, fortes. Afinal, estamos numa comédia feita por profissionais experientes do riso. Mas este riso agora não é mais aquele frouxo. Está quadro a quadro se enriquecendo de conteúdo e já esqueceu lá trás toda a carga de preconceitos. Junto dele, presenciamos também soluços na plateia. É gente demais enxugando discretamente os olhos, afinal, rir em público é mais fácil do que chorar.
Bate Coração é por vezes, muitas vezes, panfletário e didático. Confesso que atualmente concordo que muitas vezes é preciso ser assim. Anda bem difícil transmitir mensagens importantes usando as entrelinhas e, certamente, esta é uma evidente função deste filme. Contribuir com a informação e educação na construção de um mundo melhor. Mas, a qualidade da direção e elenco conseguem atender a estes objetivos sem perder a sua principal característica, de ser o condutor do combo de emoções que transportam a plateia do riso ao choro numa sequência que não deixa ninguém descansar na cadeira.
Enfim, Bate Coração é um filme para “toda família”, por mais antipático que me soe esse bordão, exaustivamente repetido na divulgação de filmes brasileiros. Entretanto, sou obrigado a usá-lo pra dizer da importância de se disseminar a sua mensagem do bem pra todo mundo, e deixar claro que qualquer pessoa pode assistir sem riscos de se sentir agredida.
Então, escolha uma sala de cinema perto de você e vá. Se a grana tá curta, sempre dá pra achar alguma sessão ou ingresso promocional mais baratinho. Vale a pena pesquisar. Até porque Bate Coração não é um filme que merece e deve ser visto. Bate Coração é um filme que PRECISA ser visto. Depois você me conta (e me agradece a dica).
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Be-a-bá demais? Né não, muita gente falou dessa dificuldade e saiu sem deixar recado. Agora todo mundo pode! :-)