Existe um segmento no universo gay, ou talvez mais de um segmento, uma vez que este grupo é bastante segmentado, que busca a "aceitação" como prêmio pelo bom comportamento. Então tudo prejudica estas pessoas, por danos de imagem. A bicha pintosa, as travestis, os que dançam descamisados na buatch, aquele povo que só pensa em pegação, enfim, todo mundo que, de alguma maneira, possa parecer agressivo frente aos heterossexuais, suas famílias, religiões e normas.
Naturalmente, estes segmentos também são contra, e descem o malho, nas Paradas Gays LGBT que rolam pelo mundo afora. Entre outras coisas, tacham de despolitizadas (ham-ham, quem não consegue diferenciar respeito de aceitação é bem politizado), de micaretas, de meras oportunidades pra beijar na boca, de show de drag e por aí vai.
Acho que fui a todas as Paradas de BH, ou se perdi no máximo foram uma ou duas. Afirmo, sem medo de errar, que as Paradas, todas, não só as de Belo Horizonte, são politizadas. Não fosse por mais um monte de coisas, só a sua realização já é um ato político.
Na Parada tem trava? Tem sim senhor! Na Parada tem pegação? Tem sim senhor! Na Parada tem trio elétrico? Tem sim senhor. E o gay, o que é? É um cidadão como outro qualquer, cuja única diferença é amar, ou transar, com alguém do mesmo sexo.
Por que então ser tratado como cidadão de segunda categoria? Pior, por que ser tratado como ser humano de quinta categoria? Seria realmente muito bom que não fosse preciso fazer parada nenhuma. Seria muito bom que todos pudessem ser iguais em suas diferenças. Bom seria também se todos entendessem que ninguém precisa de aceitação. O que se pede, ou pelo menos deveria ser pedido exigido, por todos, é respeito. Enquanto alguns não entenderem o que essa mudança de exigência significa, vão continuar com suas críticas vazias, fomentando o preconceito dentro do preconceito.
Já disse outras vezes, mas acho sempre bom repetir. Não se pode pregar um jeito certo de ser gay, em oposição ao jeito errado de ser. A palavra de ordem "diversidade" precisa contemplar exatamente isso, a diversidade. Cada um tem o direito de ser como é, do jeito que se sentir bem, desde que não prejudique o outro.
Estas correntes costumam dizer: Pra ser gay, não precisa ter voz fina. Precisar não precisa, mas se tiver, ou quiser ter, não é problema seu. Pra ser lésbica não precisa se masculinizar. Precisa? Não, não precisa. Mas se a moça quiser ter pinta de macho, no que isso afeta o outro? Constatar que a diferença existe, até mesmo colocar apelidinhos diferenciando uns dos outros, é uma coisa. Pregar contra, aí não, aí já é fazer o jogo do homofóbico.
Meninos bem comportados, façam seus esqueminhas de aceitação. Abaixem as suas cabeças e façam tudo o que seu mestre mandar. Agora, deixem o pessoal ferver nas Paradas, na noite, tirar suas camisas ao som de música eletrônica, vestir de mulher, dar muita pinta nos palcos. Numa sociedade heteronormativa, o próprio fato de ser gay já é uma transgressão. Talvez um dia, além de aceitos, vocês se descubram também respeitados. Aí não vai ser preciso nem agradecer. Cada um que batalhou por isso já vai se sentir bastante recompensado por poder levar a vida com a dignidade que merece.
* A foto foi pescada no Portal R7, com crédito para o jornal Hoje em Dia.
No ostracismo tem comodismo mas não tem felicidade. São as namoradeiras vendo a vida passar pela janela de casa, chamando de putas todas as meninas que passam pela rua por pura inveja.
ResponderExcluirÓtima reflexão. Nunca vi uma micareta denunciar a violência, afirmar direitos e defender o Estado laico. O Beijo, o afeto, ocupação do espaço público e as intervenções artistas são também ações políticas. Fazemos política com alegria. Vida longa as paradas do ORGULHO LGBT. Parabéns Luiz HIPPERT pelo texto
ResponderExcluirParabéns