terça-feira, 28 de agosto de 2018

O OUTRO LADO DA MOEDA


Teve candidato esperto que começou a campanha há uns dez anos, sem nem mesmo imaginar que aquela estratégia ia desembocar numa candidatura à Presidência da República.

A ideia era bem simples e o objetivo angariar popularidade. Entendendo antes dos outros a dinâmica das redes sociais, decidiu colocar os seus adversários e desafetos para trabalhar voluntariamente pra ele. O instrumento? A indignação.

Então, o cara e sua turma falavam os maiores absurdos (soava absurdo pra uns, mas obviamente tinham seu público simpatizante) e os inocentes cegos de indignação tratavam de divulgar pelas redes. Assim foi criado aquilo que uns malucos começaram a chamar de "mito".

Mas, ninguém tem bola de cristal e o futuro às vezes reserva algumas surpresas.

Tudo ia muito bem e o plano original funcionando, embora algumas pessoas tardiamente estivessem acordando para o óbvio: A popularidade vinha pela ingenuidade de quem julgava estar fazendo o bom trabalho de oposição aos discursos de ódio e preconceito que levaram o sujeito ao topo. Porém, estava um pouco tarde pra voltar atrás e o desastre já consolidado. Sem querer me gabar de ser mais esperto, devo dizer, como registro, que o meu alerta a essa estratégia foi feito em 2011, aqui mesmo no blog.

Enfim, o que o sabido não esperava é que, na última hora, surgisse um cavaleiro alaranjado montado não num cavalo branco, mas em sacos de dinheiro. De uma hora pra outra, o mal construído mito começou a ruir. Os votos colhidos em tantos anos de manipulação começaram a migrar numa velocidade estonteante. Claro, o novo adversário reunia tudo o que aqueles eleitores desejavam, só que numa roupagem bem mais chic e com um discurso muito melhor articulado. De quebra, ainda a qualidade de "não político" (que tentaram empurrar em torno de um candidato que já colecionava 30 anos de mandato, fora a inclusão de toda a família) encontrou um representante real. O tal do candidato novo jamais havia se envolvido em política. Não diretamente.

Aos desesperados eu sempre dizia que não acreditava que o mal enjambrado mito resistisse a um mês de campanha. Profetizava que ele "derreteria". Apenas por supor que não dá pra ninguém se sustentar só com frases de efeito e declarações bombásticas gerando memes em redes sociais. Pra angariar votos no executivo a pessoa ´tem que ter o que dizer, e era evidente que dali não sairia nada. Pois a emenda saiu melhor que o soneto e pelo jeito o cara vai acabar mesmo é na lanterninha.

Esperar pra ver né.


quarta-feira, 22 de agosto de 2018

QUEM LEMBRA DA MARINA SILVA?


Em 2010 eu quis muito votar na Marina Silva nas eleições para Presidente da República. Queria votar e votei, como não seria nada difícil saber, caso alguém tivesse interesse. Aqui mesmo no blog está tudo registrado.

Em nenhum momento me arrependi desse voto.

Chegou 2014 e eu quis muito votar nela de novo. O destino ou sabe-se lá o que (teorias da conspiração não faltaram) acabaram transformando-a em candidata. Temos candidato, temos a eleição, aí seria só votar né?

Mas, não foi bem assim.

A Marina de 2010 saiu de cena para a chegada de alguém muito estranho, uma pessoa que parecia demais com o que ela própria negava em 2010. Uma pessoa profundamente comprometida até o pescoço com o que ela mesma chamava antes de "a velha política".
Pra culminar, a candidata deu pra desdizer o já dito. A ponto de, com o passar dos dias, começarem as piadas de que o programa de governo dela teria sido escrito a lápis.

O primeiro movimento foi justamente em um ponto que de certa forma a havia fragilizado em 2010: As questões LGBT. Diziam que ela, como evangélica, promoveria uma caça às bruxas e um consequente retrocesso nas poucas conquistas de direitos alcançadas a duras penas. Verdade seja dita que, em 2010, não havia nada que comprovasse essas suposições. Pelo contrário, em algumas oportunidades ela sinalizara que defendia o estado laico e que não pretendia misturar as coisas.

Aí, justamente em 2014, ela resolveu dar razão ao que antes eram apenas suposições. Todo um capítulo, extremamente progressista do seu programa de governo, relativo aos direitos LGBT foi desautorizado pela candidata, dizendo que aquele era apenas um esboço e não deveria ter sido divulgado. Coincidentemente (?) declarações dadas após as manifestações de fúria de algumas das mais conhecidas e retrogradas lideranças religiosas.

No dia dessas declarações, eu profetizei (no Facebook): Hoje Osmarina começou a descer a escada. Não me lembro se foram exatamente essas palavras, mas o sentido foi bem claro. Aquela que estava praticamente liderando as pesquisas começava a sua derrocada. Não deu outra. Em poucos dias ela começou a descer ribanceira abaixo e só parou no momento mais patético de todos, o dia em que soltou os cabelos na cena de apoio ao candidato Aécio Neves, no segundo turno. Podia, e devia, ter ficado calada. Teria agora menos lama pra lavar.

Bom, 2010 já foi, 2014 também. Estamos agora em 2018 e eis aí a nossa personagem candidata mais uma vez. Atualmente carregando nova pecha, a daquela que só reaparece na vida pública de quatro em quatro anos somente em busca de votos. Mas, pelo jeito agora veio disposta e aparentemente com intenção de dar uma grossa faxina na imagem cristalizada de 2014.

Talvez com uma boa assessoria na retaguarda, bem diferente daquela da eleição passada, já deu início aos trabalhos. Aqui e ali, nas redes sociais, começaram a aparecer conversas de apoio às causas LGBT nos momentos em que o assunto são direitos civis. No segundo debate entre presidenciáveis, também foi feliz  descendo a lenha no ex apoiado Aécio Neves e lavando a cara daquele adversário que a gente não cita o nome no tocante ao incentivo à violência e à desigualdade entre os gêneros, diante da mal disfarçada defesa do outro quanto aos salários menores para as mulheres. Ah, e reafirmou mais uma vez o estado laico.

Enfim, a campanha está apenas começando, mas confesso que tô simpatizando com a Marina de novo. Vamos ver se dessa vez ela segura a onda.