quinta-feira, 8 de setembro de 2011

A NOSSA INDIGNAÇÃO É UMA MOSCA SEM ASAS...

Eu fui na manifestação contra a corrupção aqui em BH. Pois é, outras do tipo aconteceram Brasil afora, aproveitando a emblemática data do 7 de setembro.
Controvérsias a parte, adorei ter ido e, com certeza, estarei em outras que ficar sabendo. A mídia se divide entre os que tentam se apoderar do movimento, como se fossem donos ou ideologos dele, e os que tentam desqualificá-lo, como algo oportunista de grupos blablabla, blablabla. Enfim, a gente sabe que atualmente a mídia, ou a imprensa no Brasil, se divide entre chapa branca e chapa branca. Cada lado defendendo seus interesses. De todo isso não é ruim, porque tem sido essa a maneira que o cidadão está encontrando pra ficar sabendo das coisas, tando de um lado quanto do outro.
Bom, quando cheguei na Praça da Liberdade, local da concentração, o pessoal estava começando a dar a primeira volta. Eram mais ou menos 11h45 e tinham só umas 50 pessoas, e olhe lá. Quando finalmente, depois de muito rodar canteiros, o grupo resolveu sair rumo à Praça da Assembléia, por volta das 13h, já eram em torno de uns mil. É, eu acho que tinha por aí, embora um jornal tenha falado em 300. Depende da hora que o reporter viu né?
Caras pintadas, nariz de palhaço, máscaras do personagem do filme "V de Vingança" e muita roupa preta foram os figurinos preferidos, em uma turma preponderantemente jovem. Colírios para os olhos à parte, tantos gatchynhos e gatchynhas dão um alento ao se pensar no que vem adiante.
Bem legal também foi a confirmação de que se trata de um movimento apartidário. Em certo aspecto, a coisa foi até bem radical. O único momento tenso aconteceu justamente por isso. Quando todo mundo já tava instalado na Praça da Assembléia, chegaram uns bunito, com bandeiras e camisas de partido, com uma clara intenção, no olhar e atitudes, de tomar conta do terreiro. Foram recebidos a vaia e obrigados e recolher seus badulaques. Mesmo nas falas, quando alguém começava a resvalar pro discurso claramente partidário, era interrompido pelo toque dos bumbos ou palavras de ordem da maioria, que assim conseguia colocar tudo de volta ao objetivo proposto.
Óbvio que sobrou pra todo mundo, do governo federal ao municipal, sem esquecer do estadual. Imagino que pelo país afora tenha sido assim também, afinal, não tem nenhuma instância do poder que esteja imaculada a ponto de ser poupada. De tudo, além do grande prazer de estar na rua com aquela turma animada, acho que algumas lições foram importantes e, aparentemente, a ficha está caindo em várias questões:
1 - Todo mundo que está nos governos hoje está ali por voto. Não existe mais político biônico, coisa que a meninada não conheceu, mas que a gente sabe bem o que era. Logo, o importante é saber votar, ou pelo menos tentar acertar. Talvez, com essa nova conscientização, slogans como "pior não fica" não colem mais. Eleição não é programa de humor.
2 - As pessoas que momentaneamente estão no poder, estão ali para servir, como administradores do que é público. Eles não são donos de nada, embora muitos deles pensem o contrário. Essa postura cada vez está colando menos, uma vez que o povo está a cada dia menos bobo. 
3 - Ninguém precisa ser "iniciado" para participar. Ao longo dos anos a política foi malandramente colocada com algo difícil, chato e inatingível. Muita gente sentia-se intimidada de opinar por não se considerar preparada o suficiente. Nada, a coisa é bem mais simples, política é o seu dia a dia. Tá ruim? Reclama, grita, você não precisa ser sociologo e nem pós graduado em ciências políticas pra isso.
Tem quem aposte no naufrágio do movimenteo recem iniciado. Tem quem queira, estrategicamente, compará-lo ao fracassado "Cansei", idealizado pelas elites, principalmente paulistanas, que morreu na praia sem nem mesmo ter começado a nadar. Enganam-se eles, ou me engano eu, mas acho bem difícil uma iniciativa abraçada por milhares de jovens animados perder folego com tanta facilidade. Veremos...
No mais, senti falta de multidão. Não há quem não se indgne com a corrupção e o estado das coisas no Brasil. É assunto de botequim, de fila de banco, de ponto de ônibus. Na hora H, mil pessoas na nossa cidade. Pouco né?
Tomando emprestada a frase do Skank, a conclusão parece ser essa mesmo: "A nossa indignação é uma mosca sem asas, não ultrapassa as janelas de nossas casas".
Eu? Indignado...

* Fiz fotos, usando pela primeira vez meu celular novo. Assim que eu conseguir passar pro computador, se não estiverem ruins demais, posto aqui. Bom motivo pra você voltar e ver se já tem.  :)

12 comentários:

  1. Gostei, Luiz!
    Espero não estarmos enganados e que esse 7 de setembro tenha sido só o começo! Abraço!

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  2. Olá Luiz,

    Gostei do post. Estive lá também e o relato é esse mesmo. No começo estava pouco, mas o movimento ganhou forças e consequentemente às ruas...venho pensando na música do skank já a muito tempo. É de fato o reflexo de nosso povo, criticam a todo momento, mas são incapazes de sacrificar poucas horas do seu feriado...
    A música foi composta em 1993, e dezoito anos depois ele se encaixa perfeitamente ao atual estado que nos encontramos....espero que numa próxima oportunidade as pessoas vejam como foi, mesmo que com "pouca" gente, importante aquela marcha....
    Enfim, quando alguém reclamar comigo sobre a corrupção já vou saber o que fazer: é só pertguntar " Você foi a passeata do 7 de setembro?".

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  3. Realmente, a reclamação por parte do povo só acontece com a "comadre e o compadre" da esquina. Só se fala nas costas, ninguém tem peito pra ir pra rua. É como eu sempre digo, a corrupção nao está só no governo; ela está no cerne da cultura brasileira e nao adiantará nada exigir dos políticos sem antes mudarmos essa tradição!

    p.s: Eu nao moro em BH, mas compareci no 07/09...

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  4. Muito bom, a passeata foi muito boa, espero ansioso pela próxima dia 12 de Outubro!

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  5. Estou feliz com o movimento que começou, Luiz. Ele é ar fresco. Bom que ocorra assim, espontaneamente. Sem a condução de partidos ou entidades. Isto deixa claro que o movimento está falando para partidos, meios de comunicação, congresso, judiciário, sindicatos e governos tomarem posições éticas, republicanas. E ao mesmo tempo dá efetivo respaldo aos representantes que lutam contra a corrupção e contra a manipulação do bem público.

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  6. A causa é justa, nobre e urgente. Só haverá mudança concreta e real se nós, todos nós, nos juntarmos por este GRITO. Estarei na próxima manifestação, com certeza.

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  7. LUIZ,

    Primeira vez que posto algo aqui no seu blog.... Gostei do que vc escreveu.... eu não estava em BH mas ouvi alguns rumores, aliás, país a fora.... Acabando de voltar da Ásia e vendo a infraestrutura da China e de Cingapura, lá pensei que, infelizmente, estamos tão longe de sermos um país organizado, com infraestrutura decente, com gente responsável e madura e respeitosa.... estamos resvalando perigosamente para o precipício.... nossos políticos são um cancro !!!!!!!!!!!! Precisam ser é EXTIRPADOS !!! Temos que ter gente honesta "lá em cima" , até para agirem como modelos para os mais novos, bem necessitados que estão, e para aqueles marmanjos que se esqueceram do que é honestidade e respeito. Lá eu pensei, e repito aqui: " o último político a pensar alto que tivemos, a sonhar, foi o JK".. De lá prá cá, é tudo chinfrin!!!!!
    Seb kastro

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  8. Gostei da forma como narrou o acontecimento.

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  9. Parabéns pelo post!

    ***
    Post novo no Café de Fita, passa lá!
    Patrícia (colaboradora)

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  10. Olá, Seu blog está ótimo, tudo de muita qualidade!
    Estou seguindo, e sempre que possível volto para comentar.
    Espero sua visita no Um Pouco Sobre Isso! Siga-nos!
    www.umpoucosobreisso.blogspot.com

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  11. Fui carapintada na época do Collor. Desde aquela época já vivia a efervescência da política. Convido a conhecerem idéias para a nossa Belo Horizonte em http://leosavassi.wordpress.com/

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