terça-feira, 21 de abril de 2009

POVO DE ANTIGAMENTE

Eu tenho uma frase que falo direto:
Não se compara o incomparável.
Uso sempre que as pessoas querem falar de coisas que não se comparam mesmo. Por exemplo, alguém me pergunta sobre um filme de guerra e uma comédia romantica. É, não se compara o incomparável. Da mesma forma quando alguém quer dizer "porque antigamente era assim". Ram-ram, mas antigamente não era hoje, obviamente o mundo era todo diferente e se era todo diferente, claro que tudo era diferente.
Então, com tanto diferente, o tema aqui-agora na verdade traz a tona algumas comparações, meio inevitáveis. Não vou faze-las, cada um faz a sua, se achar que precisou.
Bom, não tô indo tãããããõ antigamente assim. Vou parar ali, na época dos meus pais. Meu pai se fosse vivo teria hoje 85 anos. Minha mãe recem completou 81, saudavel e bastante ativa, tanto no corpo quanto na mente. Coincidentemente ambos ficaram orfãos de pai bem cedo, todos dois ainda crianças, por volta dos 7 anos, creio, uma vez que nada que vem deles tem uma exatidão de datas. Enfim, orfãos e numa época bem diferente da de hoje, não passaram do "quarto ano de grupo", outro dado suposto, porque sempre dito assim, de forma genérica.
bom, seu Benedito, quarto ano de grupo... Redação impecável, o datilógrafo mais veloz da face da terra. As máquinas não acompanhavam a velocidade dos dedos de tal forma que as teclas se embolavam. Quando começou a procurar emprego, ainda menino, logo que chegou a BH, se oferecia como "datilógrafo com redação própria", termo inventado por ele, que foi se revelando ao longo dos anos bom de marketing. Pois é, ele não só batia a máquina rápido, ele criava o texto a partir de orientações do patrão. Mais tarde, redigia contratos nas suas lidas com imóveis. Contratos impecáveis diante da análise de qualquer advogado. Quarto ano de grupo, tem base?
tem a dona Ilva. Trabalhadora em solteira, já que orfã desde sempre, depois de casada tornou-se dona de casa. Lavar, arrumar, passar, fazer a comida e até as roupas de 6 filhos. Trabalho bem braçal né? Mesmo assim, nunca, nun-ca, vi a minha mãe escrever uma palavra errada. Ne-nhu-ma. Caligrafia perfeita, de professora sem ser, escrevia cartas, receitas, bilhetes, o que quer que fosse com perfeição. É gente, quarto ano de grupo.
Daí vem o incomparável-comparável com os dias de hoje. Com certeza o mundo era bastante diferente, mas no aspecto de aprender a escrever eu creio que não. Uai, a pessoa aprendia na mesma lingua de hoje, o que mudou foram alterações gramaticais acontecendo ao longo dos anos... Aff, igual essa de agora, que nem sei se quero aprender. Como diz um escritor que admiro, "escrevo de ouvido", não me pergunte por qual regra sei onde tá errado, só sei que sei...
Penso que talvez uma coisa determine o escrever correto, e até o escrever bem. A leitura. Meus pais, com quarto ano de grupo, sempre foram leitores vorazes. Não me lembro de uma única vez que não houvesse pelo menos um livro sendo lido por eles. Meu pai foi assim até o fim, e minha mãe prossegue na atividade, devorando desde best sellers até livros de história. Éééé, como ama historia ela chega a ler livros didáticos. Isso sem contar que nasci tendo sempre jornal em cima da mesa da copa.
, alguns dizem, com ar de crítica e enfado "antigamente as pessoas liam mais". É verdade, liam, mas me conta, se não lessem iam fazer o que? Ficar olhando pro tempo? Uai gente, ler era a única coisa que tinha prá fazer, diferente de hoje. Nessa hora entra a comparação do incomparável.
Enfim, para terminar e cumprir a promessa de posts mais ou menos curtos, acho incrível que hoje existam os tais analfabetos funcionais. Essa terminologia surgiu pra definir pessoas que emendam letras umas nas outras mas não entendem o que estão lendo. Deve valer também prá quem não sabe escrever. Alguma coisa aconteceu, além do menor hábito de leitura, senão como explicar pessoas na faculdade escrevendo "eles estavão com fome", ou então "vamos fazer dinovo"?
O quarto ano de grupo tá precisando voltar a ter algum valor né não?

5 comentários:

  1. Acho que as pessoas de antigamente tinham mais interesse em aprender, ou não. Acho que não basta frenquentar a escola, é necessário praticar, ler. Hoje em dia com o tal do mundo virtual e o internetês, praticamos abreviaturas, palavras erradas. Assim o mistério do quarto ano de grupo!

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  2. Sr, Luiz seu post é concerteza uma otima fonte de reflexão para atentarmos as formas como os "antigos" se desenvolvem melhor na leitura(e compreensão é claro) do que muitos desta nova geração, claro salvo excessões.

    Gostei do Blog, voltarei mais vezes..Grande Abraço

    Marcos do Simple.

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  3. puxa, realmente. olha só: no canadá para ser considerado alfabetizado você deve ser capaz de escrever um redação gramaticalmente correta e coerente sobre você. e o índice lá é minúsculo. no brasil basta saber escrever o nome e o número de analfabetos é incrível, imagine dos analfabetos funcionais. uma maluquice isso, não? mas não tem essa, sabe? é impossível comparar, lia-se mais, mas isso não é desculpa nenhuma, não acha? todo mundo tá sem tempo, mas tem tempo para ler uma revista que seja. pois nisso você tem razão. só escreve bem quem lê.

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  4. Luiz, smpre pensei nesse assunto que vc abordou.
    Realmente, tempos atrás não tinha internet, shoppings e outras cositas mas para se fazer,o jeito era passar o tempo lendo, e lendo coisas boas.
    Apaixonei pelo que vc escreveu sobre seus pais,fôfo!
    É isso aí...a preguiça para leitura desabou.Quando vejo alguém com livros nas mãos não sei se é sério ou é apenas fachada.Pior é ver erros inaceitáveis de ortografia em livros e é o que já vi, pode?
    Paz e amor, amém.

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  5. Não gosto muito da frase: “No meu tempo...”.
    Porque acho que se estou viva, meu tempo é o agora.
    Mas como todos nós, questiono a formação do brasileiro de hoje.
    Acho que a questão é que o brasileiro entra na escola, ávido de aprender, como qualquer outra criança do mundo. Mas ele ainda não aprendeu o básico. Não aprendeu a comer, a se vestir, a falar, a respeitar a si e ao outro, a ser um ser humano.
    Por isso, aprender a ler e escrever, e entender o que está lendo, está muito longe de suas possibilidades.
    Costumo dizer que vivi na Europa seis anos e não aprendi nenhum outro idioma. Isso não quer dizer que não aprendi sobre a cultura de outros países, mas que não consegui apreender mais do que necessitava naquele momento, que era:
    O que é ser cidadã brasileira.

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