domingo, 17 de maio de 2009

RO RO É FUNDAMENTAL

Que me perdoem as outras, mas Angela Ro Ro é fundamental. Mais um domingo de sol e show. Prá variar, todos os posts sobre este projeto do Sesc acabam sendo meio saudositas e autobiograficos. Desculpem os que me conhecem de agora, mas creio que este será um pouco mais revelador. "Non, Je Ne Regrette Rien", como bem cantou Piaf e como bem mencionou a Angela no palco.
Preciso dizer que tive medo do espetáculo de hoje. Tive medo que a irreverência, o deboche escrachado e o muitas vezes politicamente incorreto discurso de Angela Ro Ro fossem substituídos por liçõezinhas de moral de quem se livrou do que as vezes pode se chamar auto-destruição. É, dizem que a moça não bebe mais, não se droga mais, não bate mais em polícia na rua. Bom prá ela e sabe por que? Porque essa mudança não alterou em na-da sua presença em cena. Se melhorou a vida pessoal, beleza, todo mundo quer viver bem e levantar de manhã sem ressaca né? Claro que sim senão a gente não falaria em cada ressaca que nunca mais vai beber.
A quase sessentona não é uma cantora. É a mais autêntica "show woman" brasileira. Dessa vez não tocou piano, mas não faltou o humor ferino de quem ainda tem a mesma presença de espírito e de quebra mal enjambrou uns passinhos de dança, revelando total conforto em cima do palco. Verdade que gostava mais dela gorda, mas quem tem que se gostar é ela e não eu. Bom, e por fim, todo mundo quer ser magro, até mesmo a Angela Ro Ro.
Momento confessional: Numa de suas brincadeiras com a platéia, que ela consegue fazer sem constranger ninguém, disse, apontando para uma pessoa ali, que ela tinha futuro. E emendou, "tem futuro, o problema é o passado que condena, que nem eu". Puro deboche e auto-crítica de quem realmente não, não se arrepende de nada. Pois é, o passado as vezes condena, e no meu passado tem muito de Angela Ro Ro.
Comecei minha vida por assim dizer, adulta, ao som da voz rouca da diva. Comprei o primeiro LP tão logo chegou nas lojas, enfeitiçado pelo timbre e pelo visceral de suas canções. E assim vivi meus primeiros amores, sempre muito passionais, com este fundo musical. A trilha sonora também acompanhou as minhas infinitas baladas (que não tinham esse nome na época) vendo o sol nascer a caminho de casa ou, preferencialmente, a caminho da casa de alguém. Foi a época que deixei o lar dos pais prá tentar construir o meu, quebrando a cabeça nos tantos encontros e desencontros que se seguiram. Prá ter uma idéia da sempre presente Ro Ro nessa fase, o segundo disco, "Escandalo", ganhei de presente. Um amigo sacana me deu justamente promovendo a comparação pela relação amorosa conturbada que eu vivia na época. É, eu era meio Angela Ro Ro na transgressão e na sede de viver, o que penso não deve ser surpresa prá ninguém ao imaginar um jovem universitário de comunicação dando os primeiros passos de artista. Ram ram, dificil imaginar que passei os anos 80 rezando né não?
Porém, muito mais que eu, essa "ídola" transgrediu. Foi a primeira cantora no auge da mídia se assumindo lésbica, bem antes de ser gay virar profissão e abrir portas. Suas herdeiras de voz grave ainda são titubeantes e se atrevem a soltar um "sou bi", justificando que estão só na metade do pecado. Outro momento gozado do show, ensaiando uma dancinha, Ro Ro solta essa: "Sou a madrinha da Amy Winehouse". Ochhh, se é, que o diga Zizi Possi...
Antes de cantar "Fogueira", a musa faz um momento-reverência a Maria Bethânia, outra fundamental. Prá mim a música foi o auge do show. A canção é perfeita em todos os sentidos e traz a tona as paixões vividas. Du-vi-de-o-dó que quem um dia se apaixonou consiga passar ileso por "Fogueira", seja na voz de uma ou da outra.
, vou falar também do Pedro Morais. Canta muito bem o moço e obvio que ganhou o presente de sua carreira ao ser convidado prá dividir o palco com aquela mulher. Percebi que tinha gente da galera dele espalhada aqui e ali, gente que gaguejando e tropeçando tentava acompanhar o que ele cantava. Fiquei meio chateado ao perceber que mais ou menos todo mundo tava doido prá ele acabar e chegar a vez dela. Tá bom, eu não fiquei chateado não, eu também tava assim. Sem perder a viagem, Angela Ro Ro, além de mandar um "pega suas coisas e some daqui", debocha dizendo que sabia que todos tinham ido ali prá ver o cara, mas tudo bem, "não tenho ego". Fala o que vem na boca né não? Por fim, bonachona, faz duetos com ele, e, vamo combiná, ficaram ótimos. Tem futuro o rapaz, vai saber é do passado.
De novo, obrigado Sesc, obrigado Pedrinho Alves. Esse povo tá fazendo um projeto fabuloso, com certeza a melhor iniciativa dos últimos anos. Já fiquei sabendo que tem mais. Fica de olho aí, não vai perder de novo heim?

7 comentários:

  1. "Amor meu grande amor
    Não chegue na hora marcada"

    Frejat cantou e ficou sensacional sua versão,maaas,advinhem de quem é a musica!? RO RO poxa vida!!
    Uma artista e tanto mesmo!
    .
    http://bloggalemdoqueseve.blogspot.com
    .

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  2. Ro Ro é mesmo fundamental. O show foi muito bom e, graça a Deus, e como vc mesmo disse no blog, ela não perdeu o de dentro, a irreverência, só os quilinhos que se foram...rs. Ro Ro magrinha também faz muuuuito bem pra alma. Parabéns SESC. Ah, parabéns pro Pedro Morais. Bela voz e simpatia tem esse escorpiano. Até o próximo MPB SESC.com.

    César

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  3. Palmas pra vc! To adorando vir aki! Bjs...

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  4. Uma coisa que não suporto é visitar blogs! Começo lendo um post, vou para os comentários, depois passo para outro post, outro e quando me dou conta, já tinha chegado lá no fim. Fui até o post do Clodovil, resolvi parar. Passei pela Daslu, pedofilia, Zezé Mota e a história dos convites...Já estava aqui há quase 1 hora. Insuportável esse vício.
    duilio ferronato

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  5. Velhos e bons tempos dos seus LPs.

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  6. Luís vc é impar e seu texto está cada vez mais bacana! Faz um mês que te encontrei e tenho lido tudo e me sinto conversando com vc. Saudade docê ô obra!
    Bebeth

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Be-a-bá demais? Né não, muita gente falou dessa dificuldade e saiu sem deixar recado. Agora todo mundo pode! :-)