PRECONCEITO AUTÊNTICO

Cena hipotética 1: Uma mesa onde estão judeus e outros, não judeus. Aí eles começam a falar sobre, por exemplo, uma reunião na Sinagoga. Um dos não judeus se levanta, e fala que vai sair, prá não vomitar.

Cena hipotética 2: Uma mesa onde estão negros e outros, não negros. Aí eles começam a falar sobre, por exemplo, uma balada onde negros ficam se pegando, no sentido sensual. Um dos não negros se levanta e fala que vai sair, prá não vomitar.

Cara, impossível uma cena como esta numa emissora de TV em horário nobre né? Ham-ham, nada disso, não quando se trata de gays.

Afff, tá certo, de novo estou aqui falando de BBB. Nem vou nem me justificar mais, apesar que a tal cena eu não vi, só li na Internet, jornais, revistas, blá-blá-blá. Sei que o jogo é esse, colocar todo mundo comentando, e acabei entrando nessa. Mas é porque acho que certas coisas não tem como não botar a boca no trombone, por mais que a gente saiba que está caindo no esquema da manipulação.

Então, por que essa onda de coloridos no BBB, em nome da diversidade? Por que não judeus, negros, por exemplo, que só entram nas edições prá cumprir cota, entrar mudo e sair calado? Simples, porque a única turma que ainda pode ser achincalhada publicamente e impunemente são os gays. 

Prá quem não sabe, se é que alguém ainda não sabe, com tanto bombardeio da mídia, a cena foi justamente a hipotética acima, trocando apenas os personagens. O povo do bloco colorido comenta na mesa sobre balada gay e o protagonista do programa (sim, o programa tem um protagonista e tem dramaturgia) se levanta, prá não vomitar. "Direito dele", gritam os defensores da autenticidade. Concordo plenamente, as pessoas podem pensar o que quiserem, por mais burro que seja o pensamento. Burrice, aliás, que é a raiz de todo e qualquer preconceito. Masssss, existe uma distância entre pensar e falar. Tá bom, já sei que vão atacar de autenticidade outra vez. 

"Pô, o sujeito não tem duas caras, fala o que pensa."

Claro que sim. Veja bem, sabe quem foi bem autêntico? Hitler. Pois é, foi tão autêntico que não se limitou a falar que não gostava de judeus. Foi muito além disso, não satisfeito em confiná-los em guetos, resolveu que o melhor mesmo seria exterminá-los em campos de concentração. Voto prá ele em reality show. Né não?

Du-vi-de-o-dó que dona Globo, com todo seu poder platinado, colocaria negros na mesma situação que colocou gays. Obvio que tudo é feito em nome da audiência. Com um formato desgastado e derrubado, produziu a edição mais barraqueira do progama que sai bem baratinho prá ela. Como fazer isso? Como levantar polêmica, colocar todo mundo (inclusive eu) prá falar?

[Ah, tá bem, sem pretensão, o Boninho nem sabe que eu falo de BBB, muito menos dona Lily Marinho.] 

Não sou executivo de TV, mas a solução parece bem simples. Em nome da diversidade pega o grupo que pode ser espancado na rua, que pode ser expulso de restaurante, que pode ser assassinado sem investigação e coloca ali como palhaço. De quebra põe um cara cabeça dura, com pose de gente como a gente, e malha prá todo lado o caráter "autêntico" dele. Melhor ainda, pega um que já esteve na casa. Entre tantos que já passaram por ali, por que justamente ele? Ora, ora, ora, na lógica dos milhões (da emissora, e não a mixaria do prêmio) tudo tem uma razão. Ó-be-ve-o que a escolha não foi aleatória, muito menos a edição dos fatos e a assessoria de imprensa.

Então, você já assistiu "A Onda"? Recomendo...